Efeitos da privação do sono

Todas sabemos o que é ter o sono interrompido e passar noites seguidas mal dormidas! A diferença aqui prende-se com a inevitabilidade deste acontecimento.

Quando temos um recém nascido, não há de facto muito a fazer se não aceitar que ele precisa de ser alimentado várias vezes durante a noite. No entanto, à medida que ele vai adquirindo diferentes aptidões, espera-se que uma delas seja conseguir dormir mais horas seguidas. Se isto não acontece e os meses passam sem conseguir dormir, e as noites são pouco relaxantes, tanto para o bebé como para os pais, esta situação pode tornar-se alarmante.

Embora usemos esta expressão de forma leviana, a privação de sono é de facto um método de tortura usado há muitos anos. É utilizado para desenvolver alterações psicológicas, para encorajar a vitima a perder o sentido da realidade e acabar por falar. A privação do sono pode originar prejuízos cognitivos, raiva, irritabilidade, ansiedade ou ainda psicoses. Embora este último cenário seja o menos comum, torna-se sem dúvida, perigoso. Uma mãe sem dormir pode desenvolver uma depressão ou stress pós traumático. A falta de sono apresenta-se como um factor que desencadeia doenças bastante graves.

A definição de privação de sono aplica-se tanto a uma noite isolada, em que não fomos capazes de descansar durante um número razoável de horas seguidas, assim como a casos mais graves de vários dias, meses ou ainda anos, em que o sono é constantemente interrompido. Qualquer um dos casos é preocupante, na medida em que apresenta sempre um efeito significativo sobre a nossa saúde mental. São várias as pesquisas que demonstram que a falta de sono causa ansiedade. Embora seja expectável que nos primeiros meses com um bebé em casa surjam dúvidas e oscilações de humor, o facto de os pais não descansarem agudiza substancialmente o estado psicológico de ambos. É natural que os pais sintam preocupações com o desenvolvimento do seu filho, mas este estado de cansaço aumenta os sentimentos de culpa, de ansiedade, de raiva e incapacidade de responder tão adequadamente às necessidades do bebé.

Os pais saem da maternidade com um bebé que ainda não conhecem, mas que precisa de ser mantido vivo, precisa de aprender a alimentar-se, precisa que os pais estejam aptos para satisfazer todas as suas necessidades. Aliado a este desafio está o cansaço de dias cheios de muitas emoções, de muitas dúvidas, e de noites mal dormidas.

Recordemo-nos que existem culturas que defendem que o único papel da mãe nos primeiros meses é alimentar e estar com o seu bebé. Quando o bebé dorme também a mãe tem a obrigação de o fazer. Todas as outras tarefas são entregues ao pai e aos restantes familiares. O nosso cenário é bastante diferente. Espera-se que rapidamente a mãe volte ao seu ritmo normal, trate das necessidades da casa, volte ao peso que tinha antes do parto, e esteja sempre disposta para receber as inúmeras visitas. A importância da sua saúde física e emocional é normalmente ignorada.

No entanto, esta deveria ser a fase em que a mãe está apenas destinada a cuidar do seu filho, a aprender a conhecê-lo, e, tão importante como tudo isto, a ter tempo para descansar. É do senso comum que o bebé precisa da mãe, mas precisa também que ela esteja tranquila e relaxada para ser capaz de o perceber, de estar com paciência para as vezes que ele chora, que ele acorda à noite para comer, ou mesmo para dar colo.

É natural que tenhamos dúvidas se estamos a criar bem o nosso filho, se sabemos interpretar o seu choro ou mesmo se o estamos a alimentar adequadamente. São dúvidas que todas sentimos. No entanto, também sabemos que se não descansamos o suficiente estas ansiedades aumentam, a nossa capacidade de raciocínio diminui assim como a nossa paciência.

Por todas estas razões é importante estarmos conscientes da necessidade de boas noites de sono. Não é sinal de fraqueza pedir ajuda, seja ao companheiro, a familiares ou a técnicos especializados. Pelo contrário, é sinal de humildade e de vontade de sermos melhores mães para os nossos filhos.

Enquanto psicólogas, acreditamos que há sempre ajustamentos que podem ser feitos para melhorar a qualidade do sono de uma criança quando este não é contínuo. Toda a rotina deve ser tida em conta e, juntamente com os pais, melhorar os aspectos que devem ser alterados, para assim permitir que a criança durma tranquilamente as horas de que precisa. E, consequentemente, os pais possam também eles descansar para evitar as consequências da privação do sono.

Será normal?

 

 

     A primeira pergunta de muitos pais quando chegam à consulta é: “isto é normal?” Muitas vezes com o sentimento de culpa escondido “será que fiz alguma coisa mal?”.

   Do sentimento de culpa tão omnipresente na vida de uma mãe falaremos mais tarde. É um assunto muito delicado e com muito para dizer. Por agora vamos dedicar-nos à pergunta “será normal?” e a nossa resposta é: se sente que é normal e não a preocupa, então está tudo bem, se por algum motivo está preocupada, então vamos tentar ajudá-la a resolver essa preocupação.

   É normal um bebé acordar a meio da noite? É normal ainda mamar com tantos meses? É normal chorar só porque quer colo? É normal…. ? Não há vivências anormais, cada bebé e cada família são únicos, e como tal, cada vivência/experiência de paternidade e maternidade também é única.

   Certamente existem padrões, e se procurarmos bem até encontramos tabelas com estatísticas com as horas de sono que um bebé deve dormir e quando deve dormir e a que idade deve passar para uma só sesta e muito mais tabelas e medidas. Mas a verdade é que cada bebé e cada família tem a sua normalidade. Não nos devemos guiar pelos outros e pelas tabelas. Isso fará com que muitas vezes as expectativas não estejam ajustadas ao seu bebé e daí haver muita preocupação e muitas ansiedades desnecessárias. Cada pai e cada mãe conhece o seu bebé melhor do que ninguém. Conhece a sua linguagem, sabe identificar e decifrar os seus sinais.

   Por isso pais, esqueçam as expectativas, não comparem os vossos filhos com o que dizem as tabelas. Deixem o bebé comunicar as suas necessidades e vontades. É muito importante estar atento ao bebé, saber ouvi-lo, conhecer os seus sinais. E quando sentirem que não é normal, ou que para vocês uma situação é um problema, mesmo que para outros não seja, aí sim procurem ajuda sem medo do julgamento.