Como saber se o seu filho tem pesadelos ou terrores nocturnos?

É muito comum surgir esta dúvida quando uma criança acorda a meio da noite assustada. Afinal o que tem ela? São de facto dois distúrbios do sono distintos. Têm definições diferentes e formas de agir também distintas.

Um Terror Nocturno caracteriza-se por comportamentos agressivos enquanto a criança está a dormir. Surge normalmente a partir dos dois anos e no início da noite, enquanto a criança está em sono profundo. Os pais assustam-se porque ela grita, esperneia, levanta-se sem a clara noção de onde está nem quem são os pais. Parece que está possuída, que está a lutar com alguém e afasta quem a tentar acalmar. O papel dos pais será então apenas garantir que a criança não se magoa. Poderão também tentar acalmá-la com o diálogo, falando com uma voz tranquila. Entrar na ficção relatada pela criança dando-lhe um desfecho mais agradável, como por exemplo, dizer que apareceu uma princesa, um rei, ou outra personagem que a criança aprecie, que mandou os maus embora e que foram todos dormir. Se a criança tiver algum comportamento agressivo com os pais não deve ser repreendida. Pois ela não está consciente do que está a fazer, está apenas a tentar defender-se da personagem que lhe está a fazer mal. No dia seguinte não é aconselhável os pais abordarem este assunto, pois a criança não terá memória do que aconteceu, e só vai servir para ela ficar envergonhada e não para terminar com estes episódios.

Por outro lado, um pesadelo caracteriza-se por comportamentos mais conscientes, tendo em conta que a criança está acordada ao pedir ajuda. Surge por volta dos três anos e mais perto da madrugada. A criança acorda com o sonho, fica assustada, chama normalmente os pais e reconhece-os quando entram no quarto. Neste caso os pais devem mostrar compreensão e dar muito mimo para a acalmar. É também importante que tenham o papel de desmistificar o que a criança viveu, explicar que foi um sonho, e não é a realidade. Se necessário, fazer uma vistoria ao quarto para garantir que as personagens que viu enquanto estava a dormir não existem, e seja capaz de libertar esse medo. No dia seguinte devem falar sobre o que aconteceu. Relembrar a criança do que viveu para que seja assimilada a ideia de que foi um sonho. Os pais devem mostrar que o quarto é um lugar seguro, e que se trata apenas de um episódio que não é real.
Este distúrbio é um factor protector que as crianças utilizam inconscientemente para descarregar sentimentos de ódio, raiva, destruição e ansiedade. Surge como uma descarga emocional de alguma coisa que experenciou durante o dia, quando estava acordada. No entanto, quando este comportamento se torna muito recorrente, é um sinal de que a criança não está bem, emocionalmente. Alterações na rotina podem desencadear este distúrbio, como uma mudança de casa ou de escola, o nascimento de um irmão, ausência dos pais ou a morte de alguém próximo. Outro factor desencadeante é a actividade que a criança desenvolveu na hora antes de ir para a cama. Ver televisão deve ser evitado neste período. A hora de ir dormir deve ser tranquila, de muito afecto e com imagens positivas para a criança.
Qualquer criança que atravesse um período com pesadelos frequentes deve ser vista por um psicólogo, para que seja identificada a origem que os desencadeia e tratada convenientemente.

Os efeitos da privação de sono

Todas sabemos o que é ter o sono interrompido e passar noites seguidas mal dormidas! A diferença aqui prende-se com a inevitabilidade deste acontecimento.
Quando temos um recém nascido, não há de facto muito a fazer se não aceitar que ele precisa de ser alimentado várias vezes durante a noite. No entanto, à medida que ele vai adquirindo diferentes aptidões, espera-se que uma delas seja conseguir dormir mais horas seguidas. Se isto não acontece e os meses passam sem conseguir dormir, e as noites são pouco relaxantes, tanto para o bebé como para os pais, esta situação pode tornar-se alarmante.

Embora usemos esta expressão de forma leviana, a privação de sono é de facto um método de tortura usado há muitos anos. É utilizado para desenvolver alterações psicológicas, para encorajar a vitima a perder o sentido da realidade e acabar por falar. A privação do sono pode originar prejuízos cognitivos, raiva, irritabilidade, ansiedade ou ainda psicoses. Embora este último cenário seja o menos comum, torna-se sem dúvida, perigoso. Uma mãe sem dormir pode desenvolver uma depressão ou stress pós traumático. A falta de sono apresenta-se como um factor que desencadeia doenças bastante graves.

A definição de privação de sono aplica-se tanto a uma noite isolada, em que não fomos capazes de descansar durante um número razoável de horas seguidas, assim como a casos mais graves de vários dias, meses ou ainda anos, em que o sono é constantemente interrompido. Qualquer um dos casos é preocupante, na medida em que apresenta sempre um efeito significativo sobre a nossa saúde mental. São várias as pesquisas que demonstram que a falta de sono causa ansiedade. Embora seja expectável que nos primeiros meses com um bebé em casa surjam dúvidas e oscilações de humor, o facto de os pais não descansarem agudiza substancialmente o estado psicológico de ambos. É natural que os pais sintam preocupações com o desenvolvimento do seu filho, mas este estado de cansaço aumenta os sentimentos de culpa, de ansiedade, de raiva e incapacidade de responder tão adequadamente às necessidades do bebé.

Os pais saem da maternidade com um bebé que ainda não conhecem, mas que precisa de ser mantido vivo, precisa de aprender a alimentar-se, precisa que os pais estejam aptos para satisfazer todas as suas necessidades. Aliado a este desafio está o cansaço de dias cheios de muitas emoções, de muitas dúvidas, e de noites mal dormidas.

Recordemo-nos que existem culturas que defendem que o único papel da mãe nos primeiros meses é alimentar e estar com o seu bebé. Quando o bebé dorme também a mãe tem a obrigação de o fazer. Todas as outras tarefas são entregues ao pai e aos restantes familiares. O nosso cenário é bastante diferente. Espera-se que rapidamente a mãe volte ao seu ritmo normal, trate das necessidades da casa, volte ao peso que tinha antes do parto, e esteja sempre disposta para receber as inúmeras visitas. A importância da sua saúde física e emocional é normalmente ignorada.

No entanto, esta deveria ser a fase em que a mãe está apenas destinada a cuidar do seu filho, a aprender a conhecê-lo, e, tão importante como tudo isto, a ter tempo para descansar. É do senso comum que o bebé precisa da mãe, mas precisa também que ela esteja tranquila e relaxada para ser capaz de o perceber, de estar com paciência para as vezes que ele chora, que ele acorda à noite para comer, ou mesmo para dar colo.

É natural que tenhamos dúvidas se estamos a criar bem o nosso filho, se sabemos interpretar o seu choro ou mesmo se o estamos a alimentar adequadamente. São dúvidas que todas sentimos. No entanto, também sabemos que se não descansamos o suficiente estas ansiedades aumentam, a nossa capacidade de raciocínio diminui assim como a nossa paciência.

Por todas estas razões é importante estarmos conscientes da necessidade de boas noites de sono. Não é sinal de fraqueza pedir ajuda, seja ao companheiro, a familiares ou a técnicos especializados. Pelo contrário, é sinal de humildade e de vontade de sermos melhores mães para os nossos filhos.
Enquanto psicólogas, acreditamos que há sempre ajustamentos que podem ser feitos para melhorar a qualidade do sono de uma criança quando este não é contínuo. Toda a rotina deve ser tida em conta e, juntamente com os pais, melhorar os aspectos que devem ser alterados, para assim permitir que a criança durma tranquilamente as horas de que precisa. E, consequentemente, os pais possam também eles descansar para evitar as consequências da privação do sono.

O que é que um bebé quer fazer quando está acordado?

É quando está acordado que o bebé conhece o outro, a si mesmo e o mundo. É quando está acordado que estabelece as relações essenciais para o seu desenvolvimento afectivo, que vão determinar a sua capacidade de amar e de se relacionar ao longo da sua vida. É quando está acordado que experimenta e explora o mundo, e apesar de sabermos a importância que o sono tem para o desenvolvimento do bebé, também é quando está acordado que este se desenvolve física, cognitiva e emocionalmente.

Chamamos ao tempo em que o bebé está acordado tempo de actividade. E muitas vezes quando falamos em actividade as mães perguntam o que fazer com um bebé tão pequenino. Aqui ficam algumas sugestões de como aproveitar ao máximo este tempo com o seu filho…

Como dissemos anteriormente, chamamos actividade do bebé a todo o tempo que este passa acordado. Ou seja, a tomar banho, trocar a fralda, vestir, receber uma massagem, conversar, estar no colo, no tapete, na espreguiçadeira, enfim, todo o tempo em que o bebé não está a dormir nem a comer é considerado tempo de actividade. Num bebé recém-nascido este tempo activo é mais curto mas vai aumentando gradualmente ao longo do crescimento.

 O que fazer então nesta altura?

Em primeiro lugar, dê colo! Dê mimo, e dê mais colo! O toque é essencial para o bebé, fá-lo sentir-se amado, protegido, seguro. Estabelecer este vínculo afectivo com a mãe e com o pai é fundamental para o desenvolvimento do bebé, especialmente nestes primeiros anos de vida.

Converse com ele, fale, cante, legende o seu dia-a-dia. É muito bom para o bebé ouvir a voz dos pais, que ele reconhece e lhe transmite segurança. Não só é securizante ouvir a voz, como também é importante para o bebé começar a associar sons com rotinas, palavras com actos, o que traz alguma previsibilidade para o seu dia e que acaba por trazer segurança no mundo e no outro. Além da segurança, o legendar o dia desenvolve a linguagem, e nesta altura da vida a potencialidade para aprender línguas está no seu expoente máximo.

Tente não tornar as tarefas automáticas, ou seja, ao trocar 8 fraldas por dia podemos ter tendência para o fazer sem pensar e quase de modo automático, sem conversa, sem contacto. Tente não deixar que isto aconteça e fale com o seu bebé enquanto faz as tarefas rotineiras do dia-a-dia nos primeiros tempos, tornando-as em momentos bons a dois e não em momentos monótonos e desprovidos de relação.

Na actividade na criança já é um momento mais claro para os pais. Mas não diz só respeito à actividade física ou ao ar livre. É também importante lembrarmo-nos da estimulação intelectual e da socialização.

Uma criança precisa de brincar para se desenvolver. Destruir e construir, imaginar, ser criativo, sujar-se, correr, gastar energias, conversar, explorar livremente espaços novos, estar com outras crianças, outros adultos.

Respeite os interesses do seu filho e mostre-lhe interesse pelos mesmos. Converse com ele sobre as coisas que gosta, questione-o, deixe ser ele a escolher e a guiar a brincadeira. Muitas vezes não é preciso um brinquedo, qualquer coisa serve para imaginar e criar uma brincadeira nova.

No nosso dia-a-dia é difícil concentrarmo-nos totalmente e desligar do trabalho e das tarefas domésticas. Tente arranjar um momento no seu dia e sente-se com ele no tapete e brinque sem distracções, sem telemóveis, sem conversas paralelas. Faça com que ele sinta que está focado nele. Que é o vosso momento.

Mas não se esqueça que também é importante deixá-lo estar sozinho, brincar sozinho, explorar e descobrir sozinho. As crianças precisam de autonomia e confiança para explorar o mundo sozinhas. Respeite o espaço dele.

Faça jogos adequados ao seu desenvolvimento que o estimulem intelectualmente. Não o force a brincar ou jogar. Torne essas alturas divertidas e não momentos de stress ou avaliação. É importante que elogie o esforço do seu filho, e não só as conquistas. Ele precisa de ser reconhecido por tentar e não só quando consegue. As conquistas vão-se alcançando com a idade, não exija demais.

E mais uma vez não se esqueça da importância do colo, da conversa, do mimo, do toque. É imprescindível dizer-lhe e mostrar-lhe o quanto gosta dele. Um vínculo afectivo seguro e forte é essencial para um bom desenvolvimento emocional, cognitivo e comportamental. Estes primeiros anos de vida são determinantes na capacidade de amar e de se relacionar no futuro.